Diretora: Xavier Burgin

Roteiro: Ashlee Blackwell e Danielle Burrows

Elenco: Robin R. Means Coleman, Rusty Cundieff, Ernest R. Dickerson, Jordan Peele, Tananarive Due, Rachel True, Ken Foree, Keith David, Tony Todd, Paula J. Parker, Ashlee Blackwell, Mark H. Harris, Tina Mabry, Meosha Bean, Monica Suriyage, Richard Lawson, William Crain, Kelly Jo MInter, Miguel A. Núñez Jr., Ken Sagoes, Loretta Devine, William Marshall

Duração/Classificação: 83 minutos / 10 anos

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Assim como no livro homônimo escrito pela Dra. Robin R. Means Coleman, este documentário mergulha em um século de filmes de gênero, que sempre nos utilizou. Caricaturou, explorou, minimizou, para somente quase 100 anos depois, enfim nos abraçar. Esta é a história não contada dos negros em Hollywood e a sua conexão não somente com o gênero, mas com a arte em si que sempre os negligenciou.

O documentário já inicia com uma frase dita pela roteirista e atriz Tananarive Due (Danger Word) que serve como síntese de como o cinema sempre nos tratou no cinema de gênero: “Nós sempre amamos o Horror, é que infelizmente o Horror nunca nos amou.”, com essa frase inicia-se uma dissecação acerca da abordagem de como nós negros fomos tratados – e retratados pelo cinema com o passar do último século.

Foi muito bom rever rostos conhecidos e descobrir outros que eu tinha uma vaga lembrança de filmes passados, e claro, descobrir filmes do gênero feito por negros, muito antes da indústria nos enlouquecer (no bom sentido da palavra) com Corra, de Jordan Peele e a maneira que tudo é documentado e registrado pelo diretor Xavier Burgin – estreante em longa, é minucioso e pontual.

Igual vimos no documentário A 13ª Emenda, em Horror Noire também é trazido à mesa o infâme O Nascimento de Uma Nação de D.W. Griffith conhecido por perpetuar o homem negro como ser vil, sem escrúpulos e tudo de ruim que podemos imaginar, que além de glorificar a Ku Klux Klan em sua trama ainda teve seu conteúdo corroborado pelo então presidente estadunidense na época (Thomas Woodrow Wilson), como a real representação do negro na sociedade, e esses ecos ainda reverberam de certa forma em nossa sociedade.

Desmistificando a máxima de que o personagem negro sempre morre no começo dos filmes e ainda conversando sobre o Blaxploitation – que mesmo sendo um subgênero que explora o universo, é estrelado e em sua maioria dirigido por negros, também foi algo muito problemático por ter reforçado estereótipos negativos de pessoas pretas em suas produções. O documentário é bem didático e traz pérolas do cinema negro de horror que pouco ouviu-se falar – ao menos pelo mainstream e ainda traz aquela nostalgia ao resgatar nomes consagrados do cinema de horror como Tony Todd (O Mistério de Candyman e Premonição), Ken Foree (Despertar dos Mortos), Keith David (O Enigma de Outro Mundo) e Rachel True (Jovens Bruxas) dando aquela vontade de revisitar seus filmes.

E é emocionante demais ver que ao trazer o fenômeno Corra como o principal nome dessa nova onda do cinema de horror negro – com o feito inédito de ser o primeiro filme roteirizado por um homem preto a vencer o Oscar de Melhor Roteiro Original – proferir que ‘Agora é sobre nós, é sobre nossa história’, vindo em oposição à frase que foi dita no início é muito mais que acertado, é uma confirmação de que realmente é agora é a nossa hora.

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*Filme originalmente assistido no Cinefantasy 11 na plataforma Belas Artes À La Carte*