Diretor: Spike Lee

Roteiro: Spike Lee

Elenco: Wesley Snipes, Annabella Sciorra, Spike Lee, Ossie Davis, Ruby Dee, Samuel L. Jackson, Lonette McKee, John Turturro, Frank Vincent, Anthony Quinn, Halle Berry, Tyra Ferrell, Veronica Webb, Veronica Timbers, David Dundara, Michael Imperioli, Nicholas Turturro, Steven Randazzo, Joe D’Onofrio, Michael Badalucco, Anthony Nocerino, Debi Mazar, Gina Mastrogiacomo, Tim Robbins, Brad Dourif, Phyllis Yvonne Stickney, Curtis Atkins, Queen Latifah, Pamela Tyson, Rick Aiello, Miguel Sandoval, Charles Q. Murphy

Duração/Classificação: 132 minutos / 18 anos

Sempre trazendo em seus filmes assuntos tabu e pouco abordados por cineastas, Spike Lee (Faça a Coisa Certa) nunca suaviza em suas produções, nos trazendo o que a sociedade pouco aborda e contado pela perspectiva negra. Com Febre da Selva não é diferente, aqui ele toca num assunto recorrente, o relacionamento inter-racial e como ele é visto pela sociedade. Além de ter esse tema central o filme também toca em assuntos como desigualdade racial no trabalho, a falácia do racismo reverso, marginalização do negro dependente químico e sexualização do corpo negro.

Seguimos a história de Flipper (Wesley Snipes) um arquiteto negro bem sucedido e casado, que se envolve com Angie (Annabella Sciorra), uma mulher caucasiana de origem italiana. Sua relação com ela e as consequências que isso trará são o foco principal da narrativa e abre a discussão do porquê do relacionamento inter-racial ser visto como tabu pela sociedade. Do lado negro a discussão é mais racional e diversa explorando vários lados do tema e elencando os motivos pelo qual isso é mal visto não somente pela comunidade, mas por toda a sociedade. Do outro lado da moeda é a emoção que prevalece, já que o corpo negro é visto pelos homens brancos apenas como objetificação já que para eles – serve apenas para necessidades fisiológicas e é assombroso como hoje ainda há quem pense desta forma.

Apesar de isso ser o combustível da trama, Lee também engendra uma discussão acerca do preto no mercado de trabalho. Isso acontece quando Flipper confronta seus superiores – homens brancos, interpretados por Tim Robbins (Um Sonho de Liberdade) e Brad Dourif (Brinquedo Assassino), questionando sua importância para o sucesso da empresa deles e em seguida pedindo uma justa promoção por isso. Esse pedido dele mais o questionamento que faz quando contratam Angie em vez de uma mulher negra como solicitou, traz o discurso de que ele tá praticando um “racismo reverso” e é assustador que um filme da década de 90 traz à pauta algo que ainda hoje – pleno século XXI – reverbera na nossa sociedade.

Há também o arco do personagem do Samuel L. Jackson (Os Oito Odiados) – que sempre rouba a cena quando está presente, ele é Gator, irmão mais velho de Flipper e um adicto em crack e suas cenas com Ruby Dee (O Gângster) – que interpreta a mãe de ambos, são de um primor sem igual. E em determinado momento no final do segundo ato, quando Flipper vai ao local onde a maioria dos usuários da droga vão para seu momento de prazer, notamos que não existe estratificação social quando o assunto é este e ali todos são iguais.

Apesar de ter uma resolução mais simples do que o esperado e por romantizar alguns arcos para concluir de maneira satisfatória toda a narrativa construída, Febre da Selva – como a grande maioria dos filmes de Lee – discute de maneira madura e sem escolher lados, a posição do preto na sociedade, que independente das decisões que tome – mesmo que estas sejam incorretas e imorais para a moral religiosa patriarcal, sempre haverá mais de um dedo apontado para ti e não importa sua classe social ou quão bem sucedido você seja, você é preto e sempre terá de provar e lutar mais que todos pelo seu lugar nela.