Diretora: Gabriela Amaral

Roteiro: Gabriela Amaral

Elenco: Nina Medeiros, Julio Machado, Luciana Paes, Rafael Raposo, Dinho Lima Flor, Naloana Lima, Vanderlei Bernardino, Clara Moura, Carlota Joaquina, Aline Filócomo, Alejandra Sampaio, Tomás Decina, Guilherme Atolini, Eduardo Gomes, Caio Juliano, Felipe Kenji Shinzato, Maria Eduarda Macedo, André Maizena, Luna Martinelli, Camila Almeida Santos, Ivy Souza

Duração/Classificação: 92 minutos / 16 anos

Segundo filme dirigido pela Gabriela Amaral que assisto e mais uma vez sou surpreendido. Repetindo a parceria de O Animal Cordial com a magnífica Luciana Paes, a diretora consegue superar seu filme anterior trazendo mais camadas a uma trama sobre a morte e a difícil aceitação que temos quando ela bate à nossa porta. Contando maior parte da história pela perspectiva da pequena Dalva (Nina Medeiros) que perdeu a sua mãe e que vive com seu pai Jorge (Julio Machado) e sua tia Cristina (Paes), o filme mostra a sua relação com a morte e como ela lida com essa perda

Ela e sua tia têm uma ligação bastante forte e a simpatia – algo bastante presente no imaginário popular, reforça bastante o link entre elas e a inclusão desse tema à narrativa é bastante coerente. Ao colocá-la como um alento ante o peso da morte sob o ponto de vista de Dalva, Gabriela trabalha esse recurso narrativo para nos tirar da realidade ao mesmo tempo em que nos imerge na melancolia e frustração dos demais personagens centrais (Jorge e Cristina).

O incômodo que sentimos durante o filme inteiro é catalisado pelos excessivos planos fechados nos personagens e pelos cenários. A deterioração física do personagem de Jorge assemelha-se aos zumbis de A Noite dos Mortos Vivos, de George A. Romero. A transformação dele dá-se não somente pelo luto e a não aceitação da perda de sua esposa, mas também por estar se tornando um escravo do seu trabalho, que o deixa mais ausente na vida da filha. Outro filme referenciado em A Sombra do Pai que serve como base para a esperança de Dalva em ter a mãe de volta é Cemitério Maldito, de Mary Lambert – cujo conceito está no filme e que caso você tenha assistido assimilará os eventos dele aqui. Não falei deles por acaso, pois em certos momentos Dalva os assiste, isso explica a inspiração da cineasta.

Ao trazer mais uma vez o cinema de gênero para debater temas intrínsecos da nossa sociedade, Gabriela Amaral se coloca como um grande nome do cinema nacional atual e autoral também, mesmo pegando fragmentos de clássicos do terror clássico estadunidense ela consegue dialogar bastante com a realidade social do nosso Brasil.